sábado, 12 de junho de 2010

Papo de dona Maria 2

Preocupações, pensamentos e atitudes que só surgem depois do casamento e que eram inimagináveis enquanto você vivia no conforto da casa dos seus pais:

-Você passa a se preocupar com a previsão do tempo - e não para saber se vai dar praia:
Começa a chover, imediatamente você pensa: "Ai, meu Deus, minha roupa no varal!"

A previsão do tempo anuncia chuva para os próximos três dias: "Que droga, como vou lavar roupa se aqui em casa não tem varal coberto?"

Ao acordar, você verifica que está o maior sol: "Oba! Vou aproveitar pra lavar os lençóis."

- O gosto para se vestir tende a mudar:

"Que droga, como eu tiro essa mancha amarela nesse casaco branco? Nem o vanish deu jeito. Vou passar a comprar roupas escuras."

- Você passa a ficar ligada nas ofertas:

Os feirantes que montam suas barracas perto da estação de trem/ metrô passam a ter toda a sua atenção: "Nossa, que couve-flor bonita! Ih, o aipim tá baratinho!"

Os anúncios de supermercado na televisão passam a ser de utilidade pública: "Amor, a alcatra tá 8,75 no Prezunic!"

Alguns preços passam a ser inaceitáveis: "Alho a 9 reais o quilo? Que roubo!"


- Sair mais cedo do trabalho não é sinônimo de descanso, mas ainda assim é motivo de comemoração:

"Que bom que vou chegar cedo, aproveito e adianto a janta."


- O 13º antecipado ou a hora-extra que entra na conta podem até servir para comprar roupas e sapatos, mas não é nisso que você pensa em primeiro lugar:

"Ih, que bom! Já é o dinheiro do aluguel e da conta de luz garantido."

- O tema dos bilhetes e dos telefonemas muda:

Bilhete antes do casamento: "Mãe, hoje vou chegar mais tarde porque vou ao cinema depois da aula. Peguei 20 reais na caixinha. Beijos."


Bilhete depois do casamento: "Amor, se chegar com fome tem batata gratinada no forno e frango temperado na geladeira. Não deu tempo de fazer arroz. Acabou o sabão em pó. Beijos."

Telefonema antes do casamento: "Mãe, tem almoço pronto ou é melhor eu comer aqui no shopping?"

Telefonema depois do casamento: "Mãe, me dá a receita da panqueca de novo. São quantas colheres de farinha de trigo mesmo?"

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Alguém me explica por que a Dona Maria da imagem acima tá com cara de feliz? Humpff

sábado, 29 de maio de 2010

Esclarecimento

O título "Histórias que a gente ouve por aí", que foi usado no post anterior e será usado em outros posts, não corresponde a histórias que aconteceram comigo e sim a histórias que eu tenho ouvido de amigas no trabalho. Por isso abro aspas quando começo a contar.

Sempre que a histórias não forem minhas, esse será o título do post.

E vem aí mais um "pelo buraco da fechadura" - assim que o trabalho me der uma becha.

Beijos aos meus 4 leitores.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Histórias que a gente ouve por aí


"Primeiro, ele me procurou chorando para dizer que havia me traído com uma amiga minha há poucos dias. Queria que eu o perdoasse, digeri a informação e estava disposta a esquecer o ocorrido. A "amiga", eu descartei. Uma semana depois, me procurou de novo, para dizer que não me amava mais e queria terminar o namoro. Desde então, vive na farra, em más companhias e saindo com várias mulheres. Quanto a mim, rejeito todos os homens interessados que aparecem.

Como assim terminar? Eu já havia planejado toda a minha vida ao lado dele. Por ele ser bem mais novo e não pensar em filhos, eu já havia desistido de ser mãe antes dos 30; como ele não trabalhava, eu bancava nossas saídas e viagens; eu tomei a frente e o inscrevi no vestibular, tentando estimulá-lo a estudar; a cada mês que fazíamos aniversário de namoro, eu preparava uma jantinha. Eu podia jurar que meu relacionamento era pra sempre. Ele dizia que queria casar e procurou minha mãe para saber onde podia ser batizado, pois tinha muita vontade de casar comigo na igreja. E isso foi pouco antes do nosso término.

Minha ex-sogra, que sempre me tratou como filha, me diz que ele é um moleque e eu sou uma mulher pronta, portanto, eu mereço coisa melhor. Mas sei que na hora que ele precisar de mim, eu vou na hora, pois sou coração de manteiga e não consigo guardar rancor."

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Quando a verdade liberta e o vidro se quebra para sempre - Conclusão

[continuação]

Se eu tivesse cronometrado quanto tempo meu ciúme durou, daria no máximo 15 min. Nas conversas seguintes com a Larissa, já parti do pressuposto que o caso dos dois de fato ocorrera e em nenhum momento o ciúme voltou a surgir. Logo percebi que minha nova amiga estava totalmente obcecada, pois não tinha outro assunto que não fosse o Alan e se sentia totalmente estupefata ao perceber que a linda históriade amor que ela pensou estar vivendo não passava de um repeteco da minha. Em dado momento, comecei a evitar o MSN, pois já estava ficando enjoada daquilo tudo. Mas, não adiantava, pois quando abria meu orkut encontrava depoimentos ( daquele tipo que devemos apenas ler sem aceitar) , e nesses depoimentos ela contava: "hoje vi o casal no ponto de ônibus", "hoje ele passou por mim e fingiu que não me viu", "hoje ele invadiu minha rede de amigos, como faço para excluí-lo?", etc ,etc.


Embora nunca tenha admitido o caso deles, a coisa ficou tão evidente que não precisou de confirmação textual: ela tinha um email com nome de homem para conversar com ele e ele tinha um email com o nome de Fellipe para conversar com ela; às vezes, ele conversava comigo e com ela ao mesmo tempo, mas para ela dizia: “Já está a Milena me enchendo a porra do saco”; Larissa sabia das dificuldades de ereção dele, de seus dois empregos, de seu vício em remédios, enfim, tudo que ele compartilhava comigo, compartilhou com ela também. A relação dos dois era íntima demais para não ter rolado nada.

O método de aproximação dos dois seguiu o padrão que ele provavelmente adota com todas as mulheres. Tal padrão consiste em:

1º : Ele se faz de retardado, para que pensemos que ele está tão abalado com a nossa presença que não sabe nem como se aproximar. Comigo, se aproximou pedindo um livro emprestado, cujo título e nome do autor não sabia; com ela, se aproximou do nada para dizer que havia comprado um carro zero.

2º: Depois dessa aproximação inicial intrigante, ele começa a querer compartilhar seus gostos pessoais e grava um CD com suas músicas favoritas para nos dar de presente. Este CD possui um pograma espião e ele passa a controlar tudo que fazemos na internet.

3°: Fase da paixonite delarada. Começam os telefonemas a qualquer hora do dia (na frente da esposa, inclusive), os emails, as declarações de amor, frases imbecis do tipo "acho que temos uma ligação espitirual", as lamentações em relação ao casamento, a solidariedade em relação ao nosso namoro/noivado/casamento infeliz, tudo igualzinho. Eu e Larissa descobrimos que recebemos emails iguais, com o Snoopy, a Dama e o Vagabundo e outros personagens fofos.

4º: O fim. O tempo de duração da paixonite não costuma utrapassar três meses. Primeiro, ele deixa a esposa conhecer a amante e a apresenta como amiga; depois que a esposa fica desconfiada, permite que ela confirme todas as suspeitas, deixando-a descobrir os centenas de telefonemas que ele fez para a amante (devidamente listados na conta do celular), e os milhares de emails ( ele não tem o cuidado de apagar os emails que recebe, por mais comprometedores que sejam, e entrega todo o histórico de bandeja, deixando o email aberto "sem querer"). É aí que a vida da amante vira um inferno, pois longe de ficar com raiva dele, a Lúcia quer é exterminar a amante. É aí também que ele percebe "o quanto ama a Lúcia" e acontece a virada em seu comportamento. Ele some, começa a ignorar a amante e se torna alguém desconhecido, que não é nem a sombra do homem apaixonado de poucas semanas atrás. Enfim, quem deu o azar de cair no papinho desse cara, sai com o emocional em frangalhos.

Larissa e eu chegamos a seguinte conclusão: Alan é um psicopata, que escolhe as vítimas unicamente pensando em desestabilizá-las emocionalmente para testar sua capacidade de despertar paixão nas pessoas. Até o fato dele ter escolhido a Larissa deve ter sido proposital, pois sabia que estávamos no orkut e no msn uma da outra, e o risco de ser descoberto deve ter sido um estímulo e tanto para seu cérebro doentio.

Mas, isso ainda não é tudo. Descobri que EU era o assunto principal dos dois, e nunca consegui entender o porquê, já que a regra clássica entre os homens safados é nunca deixar que uma amante saiba da outra. Alan mostrou alguns de meus emails para Larissa ( sugerindo que eu corria atrás dele sem que ele nada fizesse para estimular isso), mostrou fotos íntimas que eu burramente tirei, revelou o que eu gostava em termos de sexo (e o que eu apenas fantasiava), falou da minha vontade de engravidar e até uma crise de candidíase que eu tive foi assunto entre os dois. Além de verdades, Alan inventou muitos absurdos. Disse que eu usava ecstasy , que a magreza excessiva da esposa se explicava pelas macumbas que eu fazia, que meu marido o chantageava ( sendo que nem namorado eu tinha na época) , que ele foi obrigado a me dar um celular caríssimo e muito dinheiro. Enfim, mentiras e verdades misturadas. Toda vez que Larissa conversava comigo, ela me contava mais um absurdo . E queria a todo custo arquitetar uma vingança na qual eu participasse.

O verdadeiro caráter do Alan, assim revelado na última semana de dezembro, me libertou totalmente de qualquer sentimento que eu pudesse ter por ele. O último contato real que tivemos foi em outubro de 2009 e o último contato virtual foi antes das revelações da Larissa, na noite do dia 26 de dezembro. Depois de tudo que soube, não tive mais vontade de ter nenhum contato, nem mesmo de esculhambá-lo. Simplesmente acabou. Ele ainda tentou provocar uma briga entre nós duas, dizendo para Larissa que eu estava querendo separá-los, e que portanto ela não deveria acreditar em nada que eu falasse. Mas, a essa altura, já estávamos espertas demais para sermos manipuladas. Aos poucos, convenci minha amiga a esquecer a vingança, pois, sendo ele um psicopata, de nada adiantaria cuspir a verdade na cara dele e dizer desaforos, pois psicopatas não sentem culpa. No fundo estaríamos dando a ele o que ele queria, a certeza de que nos abalou profundamente. O melhor seria ignorar.

Hoje, posso dizer que superei totalmente meu passado de amante. Já faz meses que não tenho qualquer contato com Alan, mas é tudo espontâneo, não fico mais contando: “hoje faz 10, hoje faz 20 dias sem ele.” Larissa ainda não superou, ela ainda me procura para conversar sobre ele, ainda sente profunda satisfação quando relembra a feiura da Lúcia, ainda quer "dizer umas verdades para ele" e tenta a todo custo marcar um almoço para me contar mais coisas.Procuro sempre mudar de assunto e tirar a sensação de completa idiota iludida que ela ainda tem. Assim como eu, ela foi vítima de um psicopata que identifica a fragilidade das pessoas para atacar no ponto fraco, descatando-as quando elas não servem mais. [Minha psicóloga discorda, diz que ninguém é vítima, mas deixemos isso em off].

Finalmente, chegou o momento no qual o vidro de fato se quebrou em mil pedaços, sem chance de reparos. Acabou, estou livre! Não que as revelações da Larissa consistissem exatamente em uma novidade inesperada, foi tudo muito compatível com as análises que eu já havia feito do caráter dele, mas parece que a verdade apareceu no momento exato em que eu estava pronta para aceitar.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quando a verdade liberta e o vidro se quebra para sempre - Parte I

“Milena, você conhece a mulher do Alan?”

Foi assim, como essa pergunta no mínimo intrigante, que a Larissa, que não falava comigo no MSN há meses, resolveu puxar conversa. Sim, claro que eu conhecia a esposa do Alan e diálogos hostis pontuados de ameaças não haviam faltado entre nós duas. Na verdade, poucos foram os diálogos, pois ela me intimidava tanto que eu me limitava a ouvir os desaforos quieta. Mas, obviamente, eu não podia entregar tudo de bandeja e me limitei a responder: “Sim, conheço de vista.” Ao que Larissa me respondeu:

“Na boa, acho que ela é maluca.”

Maluca por quê? Bom, a história da Larissa foi a seguinte: por ter sido vista uma vez na praça conversando com Alan e por ter tido um contato unicamente profissional com ele por telefone, a louca cismara com ela, passando a persegui-la. Pura loucura, claro, pois Larissa era muito bem casada, com dois filhos pequenos e jamais tivera relacionamento algum fora do casamento. Larissa perdera a paz e já havia emagrecido 5 quilos, pois Lúcia estava ligando para ela de madrugada ("anonimamente", é claro), prometendo que contaria tudo para o marido dela, que arrancaria sua roupa na praça e gritaria para todo mundo ouvir que ela tinha um caso com o Alan. Larissa foi obrigada a mudar de celular, mas nem assim a perseguição teve fim. Ela justificou o fato de ter me procurado para conversar sobre isso porque sabia dos boatos que diziam que eu havia passado pelo mesmo problema no ano anterior. Essa foi a história inicial, que eu aceitei prontamente como verdadeira.

Na verdade, "prontamente" não seria bem o termo. Fiquei um pouco desconfiada e não abri imediatamente a minha situação, deixei tudo no terreno dos boatos, afirmando que eu e Alan apenas tínhamos uma amizade, e que o ciúme da Lúcia era infundado. Só aos poucos, quando fui confiando na Larissa, contei toda a verdade para ela.


Apesar de não confiar imediatamente nela, fiquei muito indignada com tudo, afinal, sempre gostei muito da Larissa, a considerava elegante e discreta, achava sua família linda e feliz, e muito me desagradou saber que ela estava sendo ameaçada – tal como ocorrera comigo. Mas, no meu caso, eu havia terminado meu noivado, era solteira, minha família sabia do meu rolo e, portanto, eu não tinha muito a perder. É bem verdade que mudei de emprego por conta do transtorno, pois Lúcia ligava anonimamente para o meu chefe falando horrores de mim, mas a mudança acabou sendo positiva, pois me adaptei bem no novo empego e fiz amizades ótimas. No caso da Larissa, a repercussão seria diferente. Imagina se o marido dela fica sabendo? E os filhos pequenos, o que iriam pensar? Do alto da minha boa-fé, me senti profundamente solidária ao que ela estava passando.

Quem começou a decifrar que a história não era bem assim foi a minha psicóloga: “Como é o Alan, Milena? Ele é sedutor, certo? Quem garante que o casamento da Larissa é mesmo feliz? Acho muito improvável que eles não tenham tido nada.” Foi só quando a minha psicóloga descortinou essa possibilidade diante de mim que senti uma pontinha de ciúmes. Afinal, o provável caso da Larissa com o Alan estava ocorrendo paralelamente aos meus últimos e esparsos encontros com ele.

[continua]

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pelo buraco da fechadura: casamento sem sexo

“A coisa que menos se faz depois de casado é sexo”; “O homem engorda depois que casa porque come demais e faz sexo de menos”. Seriam tais frases expressão da verdade? Para alguns casais, sem sombra de dúvida. Na ficção e na realidade, os exemplos de casamentos nos quais as relações sexuais são esparsas (para não dizer ausentes), podem ser encontrados aos montes, de tal maneira que o raro é encontrar um casamento feliz. No terreno da ficção, ninguém melhor para ilustrar um casamento nessas condições do que o mestre que vê a vida dos casais pelo buraco da fechadura: Nelson Rodrigues.

Recorrerei à sua obra-prima, o livro “Asfalto selvagem”, originalmente um folhetim, no qual a história de Engraçadinha é contada. Imortalizada por Alessandra Negrini e Cláudia Raia na minissérie da Globo, a personagem principal vive um casamento com Zózimo, personagem construído de forma a ser o retrato perfeito do homem sem-sal. Convertida ao protestantismo, Engraçadinha em nada lembra a fogosa adolescente do passado. A situação do casal é tão crítica que não apenas o sexo foi abolido (por iniciativa dela, entenda-se bem), mas a própria nudez da esposa torna-se um mistério para o marido. Há algumas razões que explicam o desinteresse de Engraçadinha pelo sexo. Há o elemento traumático da adolescência, quando sua paixão pelo primo tem o trágico desfecho da automutilação e da morte de Silvio, após ambos descobrirem que são irmãos por parte de pai. Mas há também o fato do marido ser totalmente desinteressante (um sujeito que anda de camisa rubro-negra sem mangas não pode inspirar o tesão de ninguém) e pacífico demais, a tal ponto que não reage às cantadas explícitas que a esposa recebe.

Paralelamente, um dos personagens mais geniais da literatura brasileira, o juiz Odorico Quintela, nascido em Mimoso do Sul, vive um relacionamento também sem sexo. Mas a dinâmica de seu casamento é um contraponto à história principal. Às vésperas de suas bodas de prata, foi ele quem cortou as relações sexuais com a esposa, que ele descreve como uma “víbora de túmulo de faraó”. Odorico só se dá conta de que a abstinência já dura dois anos quando é interpelado pela esposa em um café-da-manhã. Na divertidíssima cena, ele afirma: “Depois de um certo tempo, o amor entre marido e mulher chega a ser incestuoso.”


O desinteresse do juiz pelo sexo aparentemente se explica pela total ausência de beleza da esposa, aliada à sua chatice. Sua falta de curvas lhe causa um “desgosto total” quando a mesma se despe e praticamente o obriga a manter relações sexuais. Mas, através deste personagem, Nelson Rodrigues também retrata os dramas masculinos trazidos pela idade: a impotência sexual. Aos 52 anos, Odorico mente a idade para todos, afirmando ter 48; quando se apaixona perdidamente por Engraçadinha, começa a fazer as contas para descobrir quantos anos de vida sexual lhe restam, traçando uma estratégia de vida saudável que inclui boa alimentação, boas noites de sono e ovomaltine; em uma das vezes em que consegue enrolar a esposa, ele pensa: “não posso me gastar com esposa, tenho que me guardar para Engraçadinha.” E, finalmente, ignorando totalmente o fato de que não é correspondido ao arquitetar um encontro em “um interior”, o juiz fica nervosíssimo quando consegue um apartamento para um dia e horário específicos, a tal ponto que chaga a berrar com Tinhorão: “Quem sabe o dia dos meus desejos sou eu!”



Se Odorico começa a se “sentir vivo” novamente quando reencontra Engraçadinha no Rio de Janeiro após longos anos, seu sentimento não encontra reciprocidade. Lindíssima e cheia de curvas, Engraçadinha não pode reencontrar o desejo em um coroa impotente de pernas “finas como bambus”. Mas Nelson Rodrigues não condena sua personagem ao destino de apenas inspirar desejo em homens e mulheres, reservando para ela um rapaz mais novo e “maciço” (o autor usa esse adjetivo com frequência para descrever homens fortes), que lhe dá carona em um dia de chuva por pura obra do acaso. Com ele, sim, Engraçadinha revive o frisson da atração física. Ao juiz Odorico, o máximo que ela pode oferecer é um beijinho na testa; a Zózimo, o máximo que ela pode oferecer é o vislumbre de sua nudez.










A minissérie da rede globo, lançada em DVD, imortalizou a personagem Engraçadinha e, ao lado das esquetes de "A vida como ela é", produzidas também pela emissora, virou referência para aqueles que enxergam Nelson Rodrigues apenas como pornográfico. ************************************************************************************
Da ficção para a realidade: casamento sem sexo existe. (Para as meninas que são amantes: aquele crápula pode estar falando a verdade quando diz que não transa com a esposa, mas isso não faz com que ele deixe de ser um crápula, ouviram?). Com pouco mais de dois meses de casada, minhas relações sexuais já são esparsas – por iniciativa minha. O desejo dele permanece inalterado e eu vivo sendo abordada. Mas o que mais me incomoda não é a falta de beleza nem os quilos a mais típicos de homem casado, e sim o fato de que ele não faz preliminares e me machuca. Assim, prefiro evitar as relações.

O que eu e juiz Odorico temos em comum:
às vezes o Lucas vem pegar em mim, apertar minha bunda, etc. Eu reajo mal, dizendo que é falta de respeito. É o amor entre marido e mulher se tornando incestuoso.


O que eu e Engraçadinha temos em comum: cada vez que eu rejeito o Lucas, logo em seguida me dou conta de que não tenho o direito de fazer isso, afinal, é meu marido, e só me aborda quando estamos sozinhos. A rigor, que ele faz não é falta de respeito.

O que eu terei em comum com os dois personagens:
reencontrarei a atração física algum dia na figura de alguém interessante?

terça-feira, 20 de abril de 2010

Papo de dona Maria


Se existe algo capaz de atravancar a felicidade de uma pessoa, este algo se chama serviço doméstico. Nem todos sabem o que é ter uma pia de louça, um banheiro pra lavar e um chão para deixar brilhando. Mas, como nem eu nem meu marido temos condições de pagar alguém que faça essas tarefas desagradáveis, não faço parte do seleto grupo de pessoas que apenas supervisiona o serviço ou do grupo de mulheres plenamente emancipadas que chegam do trabalho e encontram a casa em ordem.

Na verdade, não me casei esperando ser feliz e foi com tristeza que constatei que as pessoas ao meu redor acreditavam mais no meu casamento do que eu. Mesmo não tendo me casado oficialmente, ganhei muitos presentes, a maioria presentes caros, e cada vez que eu recebia um deles me sentia na obrigação de ficar casada bastante tempo, para não decepcionar as pessoas que apostavam no sucesso da minha relação. Eu não podia contar para ninguém que a decisão de morar junto com alguém que eu havia conhecido há apenas 3 meses nada tinha a ver com amor. Eu apenas queria sair da casa dos meus pais, mas jamais poderia fazer isso sozinha, pois meu salário era baixo demais para permitir arcar com todos os custos. Assim, eu precisava de alguém que dividisse as contas comigo. Além disso, havia o desejo de engravidar, o que eu até poderia conseguir sem me casar, mas a estutura da casa dos meus pais não comportaria mais um habitante.

Quando o Lucas apareceu na minha vida, parecia a pessoa perfeita, pois ele morava sozinho e queria se mudar do pé do morro, tinha vontade de ter filhos e era perfeitamente saudável - nem resfriado se criava nele. Para fechar o pacote, ele não é feio, o que me levou a concluir que seus genes eram os ideais para a reprodução. Enfim, meu casamento se pautou em valores puramente racionais. Tudo poderia ser assim pereitamente burocrático, uma convivência minimamente pacífica poderia surgir, não fosse um porém: o serviço doméstico.

Nunca, jamais, em tempo algum o serviço doméstico termina. Ele absorve tanto do nosso tempo que logo deixamos e nos cuidar. Afinal, pra que ir a manicure? O esmalte vai descascar no mesmo dia. Pra que fazer escova? Pra lavar o banheiro logo depois? E como ter vontade de transar depois de esquentar a barriga do fogão e ficar com a mão cheirando ao alho do refogado? Pior do que ser dona de casa em tempo integral, só mesmo fazer jornada dupla. Este é meu caso. As idas ao cabeleireiro já escassearam imensamente, as relações sexuais não são frequentes, os fins de semana e feriados não são mais usados para o lazer e todo meu tormento é trabalhar fora e tentar manter a casa minimamente capaz de receber uma visita.

Terça-feira, véspera de feriado, chego em casa à noite e encontro a pia com louça até o teto. Todos, absolutamente todos os talheres haviam sido usados. Começo a lavar e encontro tantos, mais tantos resíduos de alimento dentro da pia que começo a achar o Lucas a pessoa mais porca do mundo. Esse é o preço que e pago por ter um marido moderno, que não se importa em cozinhar: quando ele se responsabiliza pelo almoço ou pela janta, a cozinha se torna o lugar mais nojento da face da Terra.

Enquanto eu lavava a louça e ele ficava de frente para computador fumando, mil coisas se passaram pela minha cabeça. Começo a pensar que se eu morasse sozinha, não haveria tanta louça acumulada nem tantas roupas jogadas pela casa; que sozinha, eu poderia chegar do trabalho, dormir e só cozinhar a hora que eu tivesse vontade. Quis parar imediatamente o que estava fazendo para dizer a ele que não queria mais aquele casamento. Não era o alcoolismo, a falta de dinheiro nem a inaptidão para o trabalho os fatores que mais me incomodavam nele. O que mais me incomodava era a desorganização e a falta de higiene, que faziam do meu serviço doméstico algo ainda mais insuportável. Apesar de ter concluído tudo isso, engoli seco e fiquei na minha. Percebi que fiquei no meio do caminho: não fui criada para ser dona de casa, mas preciso desempenhar essa função; fui criada para trabalhar fora e ter meu próprio dinheiro, mas o peso da tradição me fez escolher o magistério, uma profissão mal remunerada que impede minha emancipação completa. Vou pecisar conviver com o Lucas enquanto não puder arcar sozinha com as contas da casa. Ou, talvez, quando ele se tornar o príncipe encantado que salva a gata borralheira do esfregão, pagando uma funcionária para o lar, a felicidade comece a despontar. Mas, não será aí que o alcoolismo vai começar a incomodar e que outros problemas começarão a aparecer? Não, não existe felicidade conjugal. Pelo menos para mim.

sábado, 20 de março de 2010

Novos leitores!

O blog estava vivendo uma espécie de recesso, mas recebi novos comentários e me senti mais motivada a mantê-lo na ativa!

Muita coisa nova aconteceu: meu rolo com o Alan acabou definitivamente depois que soube que ele mantém o mesmo padrão de aproximação com várias mulheres (ou seja, tem várias amantes e, em todos os casos, ele deixa a esposa descobrir para que a vida da amante vire um inferno), firmei um novo namoro e, em menos de 4 meses, já estou "casada".

Mas nada de mil maravilhas, lua-de-mel, nada disso. Meu "marido" é alcoolatra; tem atitudes infantis... enfim, tem muita novidade pra contar.

Vou atualizando aos poucos. Obrigada por quem comentou nas últimas semanas.