sábado, 23 de maio de 2009

Datas comemorativas

Natal. Dia das mães. Dia dos Pais. Dia dos Namorados. Para quem sofre, nada mais cruel do que datas comemorativas. Do natal, não temos muito como fugir, pois os shoppings fazem decorações caprichadas, as pessoas começam a montar árvores de natal, algumas enfeitam suas varandas com lâmpadas coloridas e quase todas as religiões realizam cerimônias especiais. A noite do dia 24 de dezembro se reveste de um aspecto diferente e isso machuca especialmente aqueles que têm uma família esfacelada, seja por brigas ou por falecimentos recentes. A ceia é montada para seguir um protocolo, se revestindo de um aspecto melancólico.

É verdade que o natal movimenta muito dinheiro mas, em se tratando do nascimento de Jesus Cristo, que grande parte do mundo aceita como filho de Deus, a pertinência da data está mais do que justif
icada. Mas, e as demais datas, que sentimento realmente nobre existe por trás delas? Quase sempre somos lembrados delas por comerciais de televisão que têm em vista tão-somente aumentar as vendas do comércio. Em alguns bairros do subúrbio do Rio de Janeiro, os políticos confeccionam faixas com dizeres do tipo "Mãe, parabéns pelo seu dia" e as colocam nas praças, com o único interesse de serem lembrados pelos eleitores. Imagine como sofre alguém que perdeu sua mãe, ou que nunca a conheceu, quando o segundo domingo de maio se aproxima e os comerciais de TV mostram filhos abraçados com as mães. A data deve ser ainda mais cruel para a mulher que não pode ter filhos e para a mãe que tem filhos falecidos e que os viu morrer ainda na infância. Há também que se considerar o sofrimento de uma criança que perdeu a mãe e que vai ter que entregar para outra figura feminina a lembrancinha que confeccionou na escola. O mesmo se pode dizer do dia dos pais. Os vizinhos organizam barulhentos almoços de família, fazem churrasco e ouvem música alta, alguns entram em seus carros com a família e saem para comer, mesmo sabendo que encontrarão filas nos restaurantes. Alguém que perdeu o pai, ou um pai que perdeu o filho, deve sofrer muito com o clima diferente que envolve o segundo domingo de agosto e fatalmente deve pensar: "por que todos são felizes e só eu não?"

Diante do sofrimento que datas como dia das mães e dia dos pais podem gerar, o sofrimento gerado pelo dia dos namorados parece fútil. Mas ele existe. Alguém que ainda ama o ex-namorado, mas foi trocada por outra, seguramente sente como se levasse uma facada no peito cada vez que passa por um vitrine decorada com ursos e corações de pelúcia com dizeres românticos. Não ter para quem comprar um presente no dia 12 de junho só não é mais triste do que saber que a pessoa que você ama vai presentear outra e esquematizar uma noite romântica com ela.

Diante da euforia da maioria, o sofrimento da minoria passa despercebido. Quem está apaixonada pelo namorado e vai
poder presenteá-lo e passar a data ao lado dele sequer pensa no sofrimento de alguém que não vai poder viver o mesmo. E o pior, quem está feliz no relacionamento chega mesmo a ignorar que tudo pode mudar de uma hora para a outra. Mas, como diz a música, pra que chamar a dor antes de acontecer?

Quando datas comemorativas se aproximam, que opção resta para quem sofre? Desabafar com alguém está fora de cogitação, pois não é justo estragar a felicidade alheia. Sair de casa pode ser especialmente cruel, mas ficar em casa também não é muito diferente, pois a televisão rememora a aproximação da data fatídica e a internet também. Seguramente, muito sofrimento invisível se mistura à euforia dos corredores lotados dos shoppings e muitos travesseiros são a única testemunha das lágrimas verti
das pelos olhos de quem se sente sozinho.


Shopping na época de natal: vincular datas comemorativas à aquisição de mercadorias estimula o consumismo de quem está feliz ou anestesia quem está infeliz?

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Carta não enviada

Quanto tempo sem saber de você, como você estará? Fico imaginando se você continua tendo gosto musical duvidoso e ouvindo cds do New Order, se está tomando direitinho seus remédios de pressão alta, se ainda se entope de Diazepan e se ainda pede um Dorflex pra qualquer um que se aproxime de você.

Será que você continua nervosinho e arranjando briga por aí? Será que ainda dorme de madrugada assistindo TV por assinatura? Será que continua adorando filmes de guerra e assistindo regularmente "Falcão negro em perigo" ? Será que ainda tem o péssimo hábito de desligar o telefone na cara das pessoas quando se irrita?

Quantas vezes você terá feito aquela carinha fofa e perguntado "sério mesmo?" ao ouvir alguma história que te causa surpresa? Você continua usando a expressão "por certo" e dizendo "pegou sorte" ao invés de "deu sorte"? Será que ainda faz aquelas piadinhas idiotas e repetitivas? Quantas vezes terá contado novamente a história de quando você e seu amigo estavam na Mesbla e um coroa, interessado porque vocês estavam fardados, mandou beijinhos para vocês, despertando a ira do seu amigo?

Será que você ainda se masturba 5 vezes ao dia vendo filme pornô escondido da Lúcia? Será que ainda olha para a bunda das mulheres para examinar o tamanho da calcinha? Com quantas mulheres você já ficou depois de mim?

Você ainda lembra de mim? Sente saudades das nossas conversas de madrugada e dos links que te mandava por email? É provável que não. Mas, infelizmente, sinto sua falta. Ainda te amo e, mesmo com todos esses defeitos, ficaria com você exatamente do jeito que você é.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Manual do encontro arranjado

Defino como encontro arranjado aquele no qual você não estava muito a fim de ir. É quando você decide dar uma chance àquele amigo que já está há meses tentando ter algo a mais com você ou quando, após algumas horas de garimpo em salas de bate-papo, você encontra alguém que se destaca dos demais por ser minimamente interessante. O encontro arranjado geralmente tem como objetivo preencher o vazio que outra pessoa deixou, mas como não há a menor chance de reatar com ela, a única coisa que resta é partir pra outra. Encontros arranjados geralmente são infrutíferos, mas volta e meia insistimos neles. Vejamos os principais passos:

1- Sorria.

Para não ficar tão óbvio que aquele encontro não representa muito para você, não se atrase. Tais encontros geralmente ocorrem no shopping ou em um barzinho, pois a falta de intimidade não permite marcar em outro lugar. Se ainda não o conhecemos pessoalmente, apenas pela internet, tendemos a ficar atentos a todo homem que aparece. Se o cara é bonito, pensamos: "bem que podia ser ele"; se é feio e mal vestido, pensamos: "tomara que não seja ele". Quando finalmente ele chega, não desperta nenhuma reação específica: não sentimos repulsa, mas também não sentimos atração. No entanto, devemos demonstrar empolgação e sorrir. Os cariocas cumprimentam com dois beijinhos.

2- Demonstre interesse na conversa.

Nada mais desagradável do que o silêncio no primeiro encontro. Procure puxar assunto, mostrando interesse em tudo que ele diz. A profissão dele pode ser a mais desinteressante possível, mas devemos dizer que achamos "muito legal". Se ele for do tipo engraçadinho, que faz piadas, sorria sempre, mesmo que as piadas sejam imbecis e revelem que a idade mental dele é de 8 anos.

3- Hora de comer e beber alguma coisa.

Se vocês vão consumir alguma coisa, não espere que ele vá pagar. Hoje em dia, os homens estão apavorados com a idéia de encontrar uma mulher interesseira, portanto não são generosos ao abrir a carteira. É de bom-tom que você se proponha a pagar a sua parte, só deixe ele pagar se houver muita insistência - mas duvido que ele insista. Se você pedir um chopp e ele um refrigerante, pode apostar que, quando o garçom trouxer o pedido, vai colocar o refrigerante para você e o chopp para ele. Se estiverem na praça de alimentação do shopping e você decidir levantar para comprar alguma coisa, ele vai aproveitar e olhar pra sua bunda.

4- Hora do beijo.

É provável que você não queira beijá-lo, mas mesmo assim vai esperar que ele tente fazê-lo. Se ele não tenta, você acha estranhíssimo, e começa a pensar que ele não te achou atraente. Ás vezes o beijo vem precedido de uma frase do tipo: "posso te beijar?". É óbvio que você deve responder "sim" a essa pergunta. Quando o cara beija mal, você começa a rezar para que o encontro acabe logo; quando ele beija bem, você até tolera mais algumas horas ao lado dele.

5- Hora de ir embora.

Quase sempre, quem observa que já está tarde e que é hora de ir embora é a mulher. É provável que você esteja muito a fim de chegar em casa logo. A hora da despedida deve vir acompanhada de considerações do tipo: "adorei te conhecer" ou "depois vamos marcar outra coisa". Se você estava odiando o encontro, vai sentir um tremendo alívio quando cada um for para o seu lado.

6- Telefonemas e mensagens de texto após o encontro.

Não tem erro: se você odiou o encontro, vai receber telefonemas ou mensagens de texto dele dizendo que adorou e que quer te ver novamente. Se você gostou, o cara some. Mas o mais chocante é descobrir que sua encenação foi perfeita e que ele realmente acreditou que você estava interessada. Agora começa uma nova etapa: fugir, inventando as desculpas mais estapafúrdias, ou encarar o segundo encontro.

7- Sexo e namoro.

Do terceiro encontro em diante, ele vai começar a sugerir que quer sexo. Se , mesmo sem estar a fim, você aceitar, e na semana seguinte a mesma situação se repetir, parabéns: você começou um namoro de mentirinha. Você vai precisar começar a dizer que está com saudades e que gosta muito dele. Logo você vai se surpreender ao dizer "eu te amo", para dar maior veracidade à relação.

8- O fim.

Você não aguenta mais se violentar, tudo que ele diz te irrita. Sua tolerância está no fim e você decide terminar tudo da pior forma possível: pelo MSN. Você sai da relação prometendo que nunca mais vai se submeter a uma situação desse tipo, mas eis que semanas depois você já está garimpando na internet novamente. O ciclo tende a se repetir até que você se apaixone novamente. Aí, tudo muda de figura e este manual perde o sentido.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sonhos traiçoeiros


Qual é o significado dos sonhos? Desejos reprimidos, elaboração do que vivemos no dia, oportunidade do espírito se libertar do corpo ou avisos sobre o futuro? Indiferente a discussões mais profundas, a sabedoria popular se encarregou de interpretar os sonhos, organizando-os em uma lista de “A a Z” e disponibilizando-a em sites ou livros que podem ser adquiridos em qualquer jornaleiro. Algumas pessoas têm o significado dos sonhos na ponta da língua, alguns bem coerentes. Por exemplo, sonhar com cobra representa traição e sonhar com nudez indica que passaremos uma vergonha em breve. Há outras interpretações que não parecem tão evidentes, como aquela que associa o sonho com dente à morte de alguém próximo. Alguns sonhos são traiçoeiros, podendo significar o contrário do que parecem. Toda vez que sonhei com alguma morte e acordei impressionada, alguém me disse: “fica tranqüila, pois sonhar com morte significa saúde”. Quando sonhamos com água, devemos ficar atentos: sonhar com água parada tem um significado, sonhar com água corrente tem outro. Água limpa jorrando é mau sinal, pois significa que muitas lágrimas estão para brotar de nossos olhos. O bom é sonhar com água suja, mas não sei que coisa boa isso pode representar.

No Rio de Janeiro, onde a “bolsa de apostas ilícita” (by Wikipedia) mais popular entre os mais velhos é o jogo do bicho, uma pessoa atenta aos seus sonhos (e aos sonhos dos outros) pode ganhar uma graninha. Minha avó, que sabe tudo sobre esse jogo, sempre se indignava quando eu resolvia contar meus sonhos apenas à noite, pois não dava mais tempo de jogar. Há quem diga que quando sonhamos com alguém que já morreu, devemos fazer uma oração e mandar rezar uma missa na intenção daquela alma, pois ela pode estar pedindo ajuda. Mas para minha avó não era nada disso. Seu vício no jogo do bicho era tão grande que, quando ela sonhava com alguém que já morreu, ia correndo ao bicheiro jogar no número da sepultura da pessoa. Quando sua sogra completou determinados anos de falecimento e o número de sua sepultura não constava no resultado do bicho, ela se lamentou: “Dona Maria não serve nem pra me dar uma sorte!”

Minha avó sabia reverter
qualquer sonho em palpite de jogo do bicho, mas apenas um ficou na minha memória: sonhar com noiva é pavão. Uma vez, sonhei com várias mulheres vestidas de noiva e achei que finalmente tiraria alguma grana dos bicheiros, que já haviam me levado uma boa quantia. Como eu precisava pegar o metrô, resolvi aproveitar e fazer uma fezinha. Mas nesse dia encontrei meu irmão na rua e, para o meu azar, ele estava gentil e me ofereceu uma carona, o que me tirou da rota do bicheiro. Pois bem, acabei não jogando, e à noite descobri que havia dado pavão na cabeça. Depois disso, desanimei totalmente e desisti de jogar.

O costume popular de enxergar nos sonhos palpites para o jogo do bicho foi registrado pelo samba carioca no carnaval de 1976. A relação entre bicheiros e escolas de samba não é segredo para ninguém, ma
s como se trata de um jogo ilegal, é surpreendente que a Beija-Flor de Nilópolis tenha tido a coragem de usar este tema como enredo. Intitulado “Sonhar com rei dá leão”, o samba dizia assim:

[...] Quando o Barão de Drummond criou
Um jardim repleto de animais

Então lançou

Um sorteio popular

E para ganhar

Vinte mil réis com dez tostões

O povo começou a imaginar

Buscando no belo reino dos sonhos

Inspiração para um dia acertar


Sonhar com filharada é o coelhinho
Com gente teimosa, na cabeça dá burrinho

E com rapaz todo enfeitado
O resultado pessoal...
É pavão ou é veado


Como se vê, a cultura popular não dá
a menor bola para o politicamente correto e se encarregou de dar aos sonhos alguma utilidade, revertendo-os em uma oportunidade de ganhar dinheiro fácil. Mas nem sempre os sonhos jogam a nosso favor. Eu e minha amiga Camila somos um ótimo exemplo disso.

Dia 2 de maio de 2009 deveria ter sido uma data comemorativa, pois completei dois meses sem ter qualquer contato com Alan. Em contagem regressiva para a comemoração, combinei de sair com a Camila para tomar um chopp, como forma de celebrar meu feito inédito. Mas qual não foi minha surpresa quando dois dias antes da data eu voltei a sonhar com Alan. No primeiro sonho, ele não estava presente,
mas eu decidia escrever-lhe um bilhete dizendo que sentia saudades. O problema é que eu tentava escrever e não conseguia, o papel era inadequado, a letra saía estranha e eu cometia erros de português grosseiros. Vendo-me forçada a reescrever o bilhete várias vezes, acabei abandonando meu objetivo. O significado deste sonho me pareceu claro: qualquer tentativa de voltar a me comunicar com ele será infrutífera. Na noite seguinte, mais um sonho, mas desta vez ele estava presente. Nós ficávamos cara-a-cara, ele não se mostrava feliz em me ver e dizia coisas irônicas, que eu não conseguia entender. Além disso, meu armário do trabalho estava cheio de coisas dele, todas velhas e inúteis. O significado foi mais claro ainda: nenhuma tentativa de contato valerá a pena, pois ele só tem a dizer coisas que vão me magoar. Além disso, os objetos velhos e inúteis que aparecem no meu armário representam o espaço que ele ainda ocupa na minha lembrança, espaço que poderia estar sendo preenchido com coisas de melhor serventia. Ou seja, já passou da hora de varrer o Alan da minha memória.

Se meus sonhos indicaram que eu tomei o caminho certo ao decidir cortar qualquer tipo de contato com Alan, por q
ue considerei que meu subconsciente não jogou a meu favor? A resposta é simples: estes sonhos acabaram reavivando lembranças. Assim, no dia 2 de maio eu não estava feliz com a minha conquista, e sim com saudades daquele lixo humano. Fui tomar um chopp com a Camila – na verdade, três - mas falei do Alan o tempo todo. Fui embora dizendo: “acho que não vou conseguir completar três meses sem falar com ele”. Camila concordou, com as seguintes palavras: “pelo menos você tentou”. Foi triste perceber que nem minha amiga levava mais fé em mim.

Felizmente, meu momento de fraqueza
não resultou em nenhum email ou telefonema. Comecei a dizer para mim mesma: “não adianta sonhar com coisas desse tipo, pois o efeito está sendo o contrário”. Situação paradoxal, pois ao tentar me avisar que eu não deveria me aproximar do Alan, meus sonhos quase causaram uma tentativa de reaproximação da minha parte. Não sei se podemos controlar nosso subconsciente, mas o fato é que não voltei a ter sonhos que me despertassem esse tipo de reação. Desde esse dia, só voltei a sonhar com ele uma vez, mas ele estava morto e eu ia comprar uma vela para rezar por sua alma. No entanto, quando chegava à loja, mudava de idéia, e comprava uma vela para rezar pela saúde do meu pai, que de fato estava ficando doente. Será que, simbolicamente, Alan finalmente morreu? Tudo indica que sim.

Parece até enredo ficcional, mas juro que na semana seguinte a Camila passou por uma situação semelhante. Seu ex-namorado, que ela diz não amar mais, mas que até as pedrinhas da rua sabem que ela ainda ama, está viajando e vai ficar ausente por um mês. Apesar disso, ela não estava triste e sequer o citava em nossas conversas. Mas eis que certa noite ele aparece em seus sonhos, voltando de viagem com uma namorada belíssima. Isso foi o suficiente para que a Camila percebesse que ainda sentia ciúmes, e a partir deste dia ela voltou a pensar nele e a investigar seu orkut. Neste caso, não há nem como dizer que o subconsciente tentou jogar a favor dela, o que houve foi simplesmente um boicote. Na noite seguinte, outro sonho: ele estava numa praça de Paris fumando maconha.

Não acredito que todo sonho tenha um sentido específico, mas os sonhos que descrevi acima são significativos demais para serem ignorados, ainda mais se considerarmos que nem eu nem Camila fomos dormir pensando nas pessoas que apareceram neles. Para mim, os sonhos representaram a confirmação de que eu devo me manter firme no objetivo de nunca mais falar com meu ex. Para a Camila, as coisas ainda estão meio confusas, talvez porque ela ainda não tenha decidido se vai esquecer o ex-namorado ou lutar por ele. Ao sonhar que ele estava de namorada nova, não creio que ela tenha sido avisada de que ele em breve terá um novo relacionamento, acredito que seja apenas a projeção de um medo que ela tem. Já o fato dele não ser usuário de drogas, mas aparecer fumando maconha, representa suas variações de comportamento, que nada ficam devendo às alterações de consciência causadas pelas drogas. Se apesar disso a Camila vai insistir na relação, por enquanto é algo que ela vai ter que decidir acordada. Ou quem sabe, ficando atenta aos próximos sonhos, ela descubra qual é o caminho mais apropriado a seguir.



Pesquisa Google sugere a relação entre sonhos e jogo do bicho; sonhar com cobra deve ser comum, vide que é o único sonho citado explicitamente.

domingo, 3 de maio de 2009

Coisas que precisam ser ditas

O relacionamento já não vai tão bem, mas nenhum dos dois parece disposto a terminar. Talvez seja só uma crise passageira, quem sabe na semana que vem tudo volte a ser como antes. Então, é preciso manter os hábitos e continuar dizendo as mesmas frases, para que o outro não cisme de discutir a relação. É preciso também manter aquele caso debaixo dos panos, afinal, não dá pra ter certeza se vai pra frente. E, bem naquele momento em que você está pensando em qualquer coisa, menos no namorado, ele diz: “Amor, te amo. Quero ficar com você pra sempre.” Não, você não quer nem pensar em mais um mês de namoro, quanto mais em relacionamento eterno. Mas, sejamos razoáveis, dá pra dizer isso? Diante daquele “eu te amo”, só resta dizer: “também te amo, amor”.

A verdade é que há coisas que precisam ser ditas em relacionamentos, mesmo que não sejam sinceras. Em namoros longos, essas coisas são ditas por hábito, de forma automática, assim como é automático aquele beijo que se dá para cumprimentar o namorado quando ele chega na sua casa. Em relacionamentos inventados de última hora apenas para preencher o vazio que outro deixou, elas são ditas para dar maior veracidade a um namoro que você sabe que é de mentirinha, mas que o outro precisa estar convencido de que não é.

Sempre me choquei com a prontidão com que o Mauro acatava como verdadeiras minhas demonstrações de carinho. Todas muito falsas, mas para ele não pareciam artificiais. Eu dizia sentir saudades, quando na verdade não havia pensado nele nenhuma vez sequer. Eu dizia que ele era importante pra mim, mas a verdade é que se ele sumisse da face da Terra, não me faria a menor falta. Mas eu precisava dizer essas coisas, talvez por desejar que se tornassem verdadeiras de fato, e também para não ficar tão óbvio que eu só estava fazendo uso de sua companhia para tentar esquecer outro, que sob todos os aspectos era mil vezes mais interessante que ele.

Certa vez eu e Mauro andávamos pelo shopping observando roupas masculinas. A cada casaco bonito que eu via, perguntava se ele tinha gostado. Interessante que eu meu preocupe tanto com o gosto dos outros para se vestir, quando na verdade me visto com tanta simplicidade que quase beira o desleixo. O gosto do Mauro não era estranho, mas ele abominava qualquer tipo de detalhe em roupas e gostava de camisas pólo azuis, que o deixavam com cara de estar sempre uniformizado. Mauro não gostou de nenhum casaco que eu apontei. Como eu sabia que sua irmã costumava entender seu gosto e presenteá-lo com roupas, eu comentei: “é, pelo jeito só sua irmã para comprar roupa pra você”. Qual não foi a minha surpresa quando ele rebateu da seguinte maneira; “ih, senti um certo ciúme nesse comentário!” Fiquei chocadíssima e pensei: “como alguém pode ter uma percepção tão errada da realidade?” Mas isso ficou só no meu pensamento, dei um sorriso fingindo que de fato estava com ciúme e continuamos nosso divertidíssimo passeio.

O ciúme não existia, mas adquiriu uma veracidade impressionante. Quantas vezes terei eu também percebido a realidade de forma equivocada quando estava com Alan? Tudo me parecia tão verdadeiro, sua empolgação, seus elogios, os “eu te amo” que ele dizia... uma vez escrevi “eu te amo” de lápis no caderno dele e logo em seguida apaguei. Ele pegou uma caneta, escreveu “eu te amo” no meu caderno e disse: “quero ver apagar agora”. Eu ficava absolutamente convencida de que ele me amava, mas hoje vejo que ele precisava dizer aquilo para não ficar tão óbvio que ele só sentia atração física.

Em relacionamentos longos, um fala que ama e o outro finge que acredita, em nome da manutenção da rotina. Em relacionamentos que começam, um fala que ama e o outro até desconfia, mas acaba acreditando, por vontade de que o relacionamento vá pra frente.