sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ser humano, frágil ou forte?

O ser humano é frágil ou forte? Até pouco tempo, eu nem pensaria muito para responder essa pergunta. Diria que o ser humano é frágil como um castelo de areia e que qualquer coisa é capaz de derrubá-lo: o fim de um namoro, a perda de um emprego, o falecimento de uma pessoa querida e até mesmo coisas corriqueiras, como quando planeja-se algo e este algo sai completamente ao contrário do esperado. Frustração, depressão, lágrimas, sensação de que está no fundo do poço - absolutamente qualquer coisa é capaz de despertar estes sentimentos no ser humano.

Até que um belo dia eu estava na varanda de casa observando a rua. Aqui no meu prédio estava rolando uma obra na garagem e um senhor extremamente magro começou a levar o entulho pra fora do prédio, colocá-lo em um carrinho de mão e, com a ajuda de outro senhor, empurrá-lo em direção a algum lugar. Este senhor repetiu o processo umas três vezes, tudo isso com um cigarro na boca. Estranho como às vezes nos sensibilizamos com cenas aparentemente insignificantes. Fiquei totalmente impressionada com aquilo, como podia uma pessoa tão frágil estar empenhada em um serviço tão pesado? Naturalmente, ele precisava da grana e não podia se dar ao luxo de passar o dia na pracinha jogando cartas e conversando sobre o resultado do jogo do bicho. E, impelido pela necessidade, aquele senhor demonstrava para quem quisesse ver que era frágil só na aparência. Ele tinha muita força dentro de si.

Na varanda de uma rua residencial de subúrbio, pode-se ver muita coisa. E uma coisa que sempre vejo é o César, um senhor igualmente magro que já é figura conhecida de todos, pois vive bêbado. Seja qual for a hora do dia, lá vai ele pela rua cambalendo, de vez em quando está caído na calçada vivenciando algo parecido com um coma alcoólico. Dado o estilo de vida que César adota desde que eu me entendo por gente, é praticamente um milagre que esteja vivo. A longevidade de uma pessoa que leva uma vida totalmente anti-saudável é mais uma prova de que o corpo humano é forte pra caramba.

Falemos agora do cigarro. Há milhares de substâncias tóxicas no cigarro, mas uma pessoa é capaz de fumar por décadas sem apresentar qualquer doença. Como o corpo humano pode processar tanta coisa ruim que o fumante coloca pra dentro de si? Mistério. Certa vez, assisti um programa de madrugada na televisão que tinha por objetivo dar um sermão nos fumantes. Foi mostrado uma senhora de 90 anos, agonizando na cama e agarrada a um maço de cigarros. A neta filmou tudo, pois queria que o drama da avó servisse de alerta para quem fuma. Mas, pensemos bem, essa senhora fumava desde criança, chegou a 10 maços por dia (o que acho meio inacreditável) e chegou aos 90 anos!!! A morte chegou porque estava na hora de chegar, até que ponto o cigarro teve culpa disso?

Até aqui, só citei exemplos que comprovam que o corpo humano é resistente do ponto de vista físico. Mas, e do ponto de vista emocional? Do ponto de vista emocional, também. Quando meu avô faleceu, todo mundo apostou que minha avó morreria em seguida, pois não aguentaria o baque. Pois bem, já se passaram mais de dez anos e minha avó está aí até hoje, fazendo tudo que fazia antes e exercendo inúmeras tarefas na igreja. Um caso famoso, o do falecimento da menina Isabela Nardoni, também demonstra a força do ser humano: "mãe de Isabela vive um dia de cada vez", era a machete de um portal de informações da internet. Sim, ela sofre e vive um dia de cada vez, mas está aí vivendo.

É certo que a religião serve de conforto e ajuda na superação do trauma da morte. Tente consolar alguém que perde um ente querido sem falar de Deus, sem falar que sua alma está em um lugar bom e que, de onde está, o falecido sabe do amor dos que ficaram e que gostaria de ver todos bem. É impossível.

Eu mesma sou um exemplo de que o ser humano é forte. Sofro de depressão desde os 17 anos. Uma vez, parei de comer, pois queria definhar até morrer. Cheguei aos 47 quilos, mas meu organismo não se conformou com aquilo e comecei a ter dores horríveis de estômago, que me obrigaram a comer. Mesmo em um ser depressivo, o corpo humano quer viver e tira forças de onde não tem para dar a volta por cima.

Meu ponto fraco é a vida amorosa - que por sinal, é um fiasco. Quem acreditaria que uma pessoa depressiva, que pensava em suicídio o tempo todo, superaria o trauma emocional que passei em 2008? Eu era amante, vi Alan sair da casa da esposa com absolutamente tudo que era dele, me tornei a oficial por alguns meses, planejei uma vida maravilhosa com ele. De repente, vi Alan dar pra trás, voltar pra casa e terminar tudo comigo ... terrível! Mas, mesmo sendo depressiva e tendo desabado com a situação, continuei indo trabalhar, saindo pra comer no Spoleto e ouvindo a MPB que tanto amo. No meio de uma tempestade, continuei mantendo meus pequenos hábitos e aí, de vez em quando, até me surpreendo quando percebo que estou feliz.

Sim, o ser humano é forte. Ele tem suas fragilidades, é claro, mas não se conforma com elas e traça estratégias para viver o máximo de tempo possível. A dor é causada pela morte de alguém? Simples, creia no mundo espiritual. A dor é o fim de um relacionamento? Calma, se ele terminou com você, é porque não te merecia! Distraia a cabeça e logo você viverá um novo amor! Você é depressivo? Procure um psiquiatra que um remédio tarja-preta resolve. O psiquiatra não resolveu? Fume um cigarrinho e seu cérebro ganhará novo estímulo. Cigarro é leve demais pra vc? Compre drogas ilícitas. Sim, são soluções que detonam a saúde (ou não, dependendo do organismo), mas a longo prazo. A curto prazo, vamos vivendo, e sempre procurando um alento para evitar soluções mais radicais, como um tiro na cabeça.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Recaída e volta por cima



Nossa, quanto tempo não escrevo aqui !! Estou sem tempo para escrever crônicas e a criatividade não está sendo das melhores... além disso, não estou triste, (descobri que a nicotina é a grande responsável pelo meu bom estado de espírito) e minha principal inspiração é justamente o sofrimento, então estou no aguardo de uma nova crise depressiva para escrever mais uma crônica... rs ... quem sabe uns dois dias sem fumar resolvam esse "problema".

Bom, meus 4 leitores, acho que não é novidade para vocês, mas eu tive uma recaída. Estava tentando nunca mais falar com Alan e após três meses de sucesso na empreitada, sucumbi e enviei um email para ele. Qual não foi minha surpresa quando ele respondeu quase de imediato. Achei estranho, pois meus sonhos sempre me diziam que minhas tentativas de reaproximação seriam infrutíferas, pois ele me ignoraria.

Foi tudo maravilhoso por um breve período: começamos com aquela história de sermos amigos, mas logo estávamos recordando o passado, ele ficou carinhoso, mandou emails espontaneamente, elaborou declarações de amor fofas, mandou uma imagem do Frajola com flores na mão e tantas outras ... mas ai, começou a insatisfação. Sim, por que, de que adianta alguém dizer que te ama, que não consegue te esquecer, que pensa em você o tempo todo mas, apesar disso, optar pelo afastamento? E foi isso que aconteceu: ele ficava plenamente satisfeito com os contatos virtuais e nem cogitava a hipótese de um encontro - o que é totalmente injustificável, considerando-se que ele mora a duas ruas da minha.

No dia 20 de junho (sábado), ele estava apaixonadíssimo, e até tocou no assunto do divórcio - coisa que eu nem cobrava dele, por saber que ele é totalmente inapto para tal. E essa paixonite toda me irritou. Me ama? Então demonstra! Mais atitudes e menos palavras! Quando fui cobrar isso dele, acabou-se tudo (mais uma vez). Ele me excluiu do msn, e quando me deparei com a ausência do nome dele na minha lista, entrei em desespero. Chorei o dia todo. Não fui trabalhar. E como o cérebro humano é doentio, tive a necessidade de escrever-lhe um email de despedida, ao qual naturalmente ele não irá responder. Mas, passado o nervosismo, e com a ajuda da minha amiga, agora já estou bem.

Um amor como esse, que se satisfaz com recordações do passado e com projeções para o futuro que jamais se concretizarão, eu dispenso. Resta saber por quando tempo pensarei assim.

sábado, 6 de junho de 2009

Confusão de sentimentos

4 horas da manhã. Insônia. Confusão de pensamentos. O que eu sinto de fato pelo Alan? Não sei porque essa dúvida me atormenta, afinal não o vejo há meses. Nunca nos cruzamos pelo bairro, apesar de morarmos perto. Mas comecei a ter medo de cruzar com ele e não sentir nada. Mas, por que medo? Não seria uma coisa boa constatar que não sinto mais nada por ele? Esses meses todos de sofrimento teriam sido por amor ou eu apenas me apeguei a uma lembrança? Usei como pretexto os relacionamentos desagradáveis em que me meti para confirmar que ele era meu amor verdadeiro, que eu jamais conseguiria esquecê-lo. Me apeguei ao não-concretizado para fantasiar um relacionamento que possivelmente seria desastroso, mas que eu só conseguia imaginar que seria maravilhoso. Viagens que planejamos e não fizemos, locais aos quais nunca fomos juntos, o sorvete que nunca tomamos em dia de calor, os filmes que nunca assistimos no cinema. Continuo passando pelas mesmas ruas que passei com ele de mãos dadas, mas agora passo sozinha, e todos os locais já estão revestidos de outros significados. Não sofro mais como antes, mas queria sofrer. É como se fosse uma coisa legal ter um grande amor não-concretizado me marcando eternamente. Mas não vai marcar eternamente. Já não sinto mais a mesma coisa.

Se eu falasse com ele, como seria? O que ele teria a me dizer além de manifestar sua atração física mal disfarçada por frases de efeito que sugerem algum sentimento? Quanto tempo duraria a fase carinhosa antes que ele voltasse a ser o mesmo grosso de sempre? Se voltarmos a ter contato, ele vai dizer que logo vai dar um jeito de me ver, mas sei que esse "logo" nunca vai chegar. E se esse "logo" chegasse, será que seria bom? Ou eu só constataria que não sinto mais a mesma coisa? Que pra mim ele é indiferente e tudo que ele tem a dizer é insignificante? Pra que constatar isso?

Será que é hora de seguir em frente? O que eu sinto por ele? Confusa, muito confusa...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Analisando a música "Nada por mim"

Você me tem fácil demais
Mas não parece capaz
De cuidar do que possui
Você sorriu e me propôs
Que eu te deixasse em paz
Me disse vai e eu não fui

Não faça assim
Não faça nada por mim
Não vá pensando que eu sou seu

Você me diz o que fazer
Mas não procura entender
Que eu faço só pra te agradar
Me diz até o que vestir
Com quem andar e aonde ir
Mas não me pede pra voltar



Tanta gente já gravou essa música que fica difícil saber quem a compôs. O verso "não vá pensando que eu sou seu" até sugere que ela foi composta por um homem, mas todos os demais elementos da canção formam um típico discurso feminino. Vou, então, admitir que se trata de uma canção que, se não foi feita por uma mulher, foi escrita para que uma mulher cantasse. A seguir, comentarei alguns versos.

Você me tem fácil demais, mas não parece capaz de cuidar do que possui: dizer que uma mulher é fácil é o mesmo que dizer que qualquer um que se aproxime tem chances de ter com ela um contato mais íntimo. Mais do que isso, a mulher fácil sequer espera que o homem se aproxime e já parte para o ataque. Mas esse não é o sentido na canção. Ser fácil demais, nesse caso, é o mesmo que deixar totalmente explícita a paixonite que se sente pelo outro. E pouco importa que o outro não saiba cuidar do que possui, pois mesmo que ele seja um estúpido na maior parte do tempo, a mínima demonstração de carinho apaga o histórico de grosserias. Mostrar-se "fácil demais" sempre foi desaconselhado pelos mais antigos, que afirmam que homens gostam de desafios e se desinteressam quando percebem que não precisam se esforçar muito para conquistar alguém. Essa idéia pode até ser ultrapassada, mas ser "fácil demais" é realmente uma desvantagem, pois dá ao outro a segurança de que todo tipo de comportamento desagradável será tolerado. E, de fato, quando um homem percebe isso, ele não hesita em te magoar, pois sabe que você não hesitará em perdoá-lo.

Você sorriu e me propôs que eu te deixasse em paz [...] Me diz até o que vestir , com quem andar e aonde ir, mas não me pede pra voltar: estes versos descrevem uma situação que os mais antigos chamariam de "não trepa nem sai de cima". Temos uma mulher que não esconde sua paixonite e um homem que, apesar de não esconder sua indiferença, alimenta deliberadamente os sentimentos dela. Ele propõe que ela o deixe em paz, mas diz isso sorrindo, o que tira a carga negativa de suas palavras e dá a impressão de que está apenas brincando. Outras atitudes, como opinar sobre suas roupas, companhias e lugares que ela deve ou não frequentar dão a ilusão de que ele se preocupa com ela, e quando estamos apaixonadas nos prendemos mais aos detalhes que sugerem pequenos sentimentos do que às evidências de que a pessoa não nos ama.

Não vá pensando que eu sou seu: e tem como ele pensar diferente??

Você me diz o que fazer, mas não procura entender que eu faço só pra te agradar: Se ele lhe diz o que fazer, é porque o que ela faz para agradá-lo não é suficiente, ou quem sabe até gere o efeito contrário. Nestes versos, fica claro que fazer tudo para agradar não ajuda a conquistar alguém que não está interessado, sendo tão infrutífero quanto ser fácil demais. E, de fato, é irritante quando alguém que a gente não gosta insiste em forçar afinidades. Tais situações já aconteceram comigo: ele nunca tinha lido na vida, mas como sabia que eu gostava de leituras, começou a ler também; ele trabalhava na área da informática e zerava nas provas de Historia quando estava no colégio, mas de uma hora pra outra ficou louco pra conhecer as cidades históricas de Minas. Enfim, pensando em agradar, o outro perde a espontaneidade e torna-se desinteressante.

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É triste viver a situação descrita na música. Eu já vivi, e acredito que muita gente já viveu. Quando amamos de verdade, não bolamos estratégias, não paramos pra pensar que devemos ocultar nossos sentimentos, que devemos preservar a auto estima, que devemos pular fora ao identificar a ausência de amor da outra parte. Nos apegamos aos detalhes mais insignificantes que podem simbolizar algum sentimento e ignoramos as evidências de que o único sentimento que existe é o nosso. Mas não somos totalmente culpados disso, muitas vezes o outro alimenta nossos sentimentos só pelo prazer de se sentir desejado e de ter alguém na "reserva". Não é ser fácil demais nem fazer tudo pra agradar que mina nossas chances de ter um relacionamento com alguém que não nos ama, pois mesmo que não fizéssemos nada disso, o resultado seria o mesmo.